Chuva
Retorno a mim
E, assim,
Recomponho meu deserto.
Chove.
A nuvem lívida que escorre
Do céu
Diz de um interior que é meu.
Meu universo:
Uma casa de velhas paredes
De velhas palavras
Sobrepostas
Nos cantos,
Atrás das portas...
Meus versos:
Frágeis linhas sem respostas
Agrupadas de forma
A somarem léxicos,
Limbo,
Sobreposições
Indeléveis e imutáveis.
O que havia de simples
O vento – aragem da vida-
Levou aos olhos do mundo.
Mas estas inertes arquiteturas
Verbais
Não me devolvem a paz.
Sinto histórias latentes
Em cada sulco ,
Em cada vertente
Deste intrínseco
Tumulto.
Sinto que o vento,
Pela teimosia do tempo,
Não conseguirá derramar
Meus verbos obtusos
Em sons,
Nem declamar
Meus versos
Em transitórios tons.
Neste quarto escuro,
Neste escuso
Canto de minha guarida
Sinto que a vida
–Fera adormecida-
Despertará em lâmina
E fenderá meu silêncio, minha alma
Num instante de luz,
Num ardente magma.
©Anderson Christofoletti